Aquicultura

Produzir para preservar.

Surge um novo mercado consumidor de pescado, que não aceita consumo de pesca extrativa por considerar que está se esgotando a cada dia. Ao mesmo tempo, não abre mão do saudável alimento, principalmente da Tilápia, branca, firme, sem gorduras, sem espinhas. Como atender a esse mercado sem agredir ao meio ambiente?

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Represa de Canoas I.

Para criar peixes, é preciso água. As nascentes devem ser preservadas num raio de 50 metros. Os leitos dos rios, arborizados, no mínimo 30 metros. Várzeas, na medida do possível, devem permanecer intocadas. Atendendo a essas exigências, fica difícil expandir a atividade. Ou não? A necessidade de energia fez com que fossem formados enormes lagos, alguns em regiões superpopulosas. Criou-se uma expectativa que com a formação desses lagos haveria peixes em abundância, mas não ocorreu. As águas represadas geralmente são limpas demais, não havendo suporte biológico para a geração de uma cadeia biológica que pudesse culminar com a produção de peixes. Os pescadores artesanais vão desaparecendo da beira desses lagos. Por que não colocar lá os peixes para se desenvolver? Como a água é pobre, há que tratá-los.

Um hectare de terra própria para a construção de viveiros para aqüicultura custa em torno de R$10.000,00. A construção em si, cerca de R$15.000,00. Para produzir 10 toneladas de peixe/ano. Dez tanques-rede na represa produzem 10 toneladas de peixes/ano e custam por volta de R$10.000,00. Um hectare de área na represa produz de 200 a 300 toneladas de peixes/ano.

Se no Brasil fosse usado 1% dos 5.500.000ha das represas, poderia se produzir 11 milhões de toneladas de peixe, praticamente o que o país produz de frango, sendo considerado um grande produtor mundial. E o impacto ambiental seria de praticamente zero, pois as áreas usadas nesse 1% são dimensionadas para absorver esse impacto. Sobram 99% das áreas para as espécies extrativas se refazerem da poluição agrícola, industrial e urbana.

A tecnologia desenvolvida nessa modalidade está proporcionando ótimos resultados, tanto do ponto de vista ambiental como social e econômico. Como se tratam de lagos artificiais, e que não correspondem à expectativa de pesca abundante, não há maiores agressões, uma vez que a água já está lá. Não se faz desinfecções. Convive-se bem com a fauna nativa, nem há devastações.

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Represa de Capivara.

Espécie – Por lei, só se pode cultivar uma espécie se já estiver estabelecida na região há mais de dez anos. É necessário consultar o IBAMA. Talvez trabalhar só com espécies nativas. Mas de modo geral o que verificamos é que o peixe que melhor se adapta ao sistema de cultivo, e que trás maior resultado é uma espécie exótica já estabelecida em praticamente todas as bacias hidrográficas brasileiras, exceto a dos Rios Tocantins e Araguaia, segundo o próprio IBAMA, conforme declarado em sua portaria de número 145/98, de vinte e nove de outubro de 1998. O bom senso recomenda que havendo um lago natural sem a presença de tilápia nele e em seus afluentes seria não recomendável o cultivo da tilápia, mesmo em tanque-rede. Praticamente todos os grandes lagos da região são artificiais e todos os seus afluentes apresentam pisciculturas onde se cria tilápia. Isso significa que independente da maior ou menor presença da tilápia no lago, os riscos do aparecimento dependem muito mais das pisciculturas em viveiros de terra do que dos tanques-rede, pois as tilápias que descem daquelas pisciculturas em geral são provenientes de falhas no processo de monosexagem, e apresentam em função disso uma grande predominacia de fêmeas acompanhadas por machos. Ao passo que nos tanques-rede as tilápias também são revertidas e a possibilidade de desova é mínima, uma vez que não consegue fazer ninho. Mesmo ocorrendo a desova, dificilmente haveria tempo para uma fecundação. Além disso, em geral os tanques-rede costumam ser rodeados por peixes nativos altamente vorazes, que não dariam a mínima chance de desenvolvimento aos filhotes.

Os quatro pontos básicos que determinam os riscos da introdução de uma espécie exótica numa região são os seguintes:

  1. Possibilidade de retro-cruzamento com espécies nativas parentais, descaracterizando-as. Não se conhece nenhum cruzamento de tilápia com nenhuma espécie nativa, nem no nível de laboratório.
  2. Voracidade. A tilápia é um péssimo predador. Tanto que o camarão da malásia, que pode ser usado como isca para a maioria dos peixes, é criado junto com a tilápia em viveiros de terra. A tilápia é presa fácil para a maioria dos peixes. Um de seus maiores inimigos é o minúsculo lambari.
  3. Possibilidade de transmissão de doenças. Não existe controle sanitário nos lagos. Os peixes e outros organismos que lá estão, estão sujeitos a todo tipo de contaminação. Passam por um rigoroso processo de seleção natural contra essas doenças, inclusive buscando na natureza condições e alimentos para melhor resistir a elas. As tilápias produzidas em laboratório os são em condições de assepsia. Tudo é muito bem desinfetado. Por vezes até caminhões para entrar nesse locais são banhados em formol. Portanto quando se coloca tilápias em tanques-rede nesses lagos, elas é que estão sendo expostas a contaminações, não os peixes do lago.
  4. Concorrência por alimentos, locais de desova e abrigo. Esse seria o maior risco. Tilápias colocadas em algumas massas de água por vezes proliferam demais, chegando a ficar atrofiadas. Como na maioria dos lagos gerados para a geração de eletricidade existe alguma quantidade de peixes nativos, as tilápias que chegam a eles são prontamente predadas de modo que fica até difícil capturá-las. Portanto, não existe esse risco. Alguns pretensos ambientalistas usam esse argumento. Dizem que quando aumenta a população de tilápias, diminuem a de outros peixes. Isso é falso. Ocorre que quando as condições ambientais inviabilizam a existência de outros peixes, a tilápia, mais resistente, sobrevive e prolifera. Basta a simples volta dos peixes nativos, até mesmo do já citado lambari, para que a população de tilápia se estabilize ou até mesmo diminua, quase a ponto de desaparecer.

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